quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Entrevista ao Jornal SOL

Entrevista enviada pelo "Morador do Bairro Alto" (MdBA) ao Jornal SOL (JS) no passado 19 de Outubro:

JS: O que é que está a contribuir para que haja cada vez mais lixo nas ruas do Bairro Alto?

MdBA: O problema tem diversas origens, mas a causa fundamental é o consumo, circulação e venda de bebidas alcoólicas na rua. Uma legislação idêntica à que existe para os estádios desportivos (com 40, 50 mil pessoas) deveria ser aplicada ao Bairro Alto e redondezas, onde as últimas estatísticas apontam para a frequência de 200 mil pessoas por fim de semana.

JS: O programa de limpeza do Bairro Alto anunciado por António Costa em 2008 surtiu algum efeito?

MdBA: O programa de limpeza é manifestamente insuficiente. Se António Costa anunciou o dito “programa” em 2008, ao mesmo tempo começaram a proliferar as “mercearias”, deixou de se efectuar fiscalização e os horários de abertura foram extendidos das 02:00 para as 03:00. Se uma medida poderia ter melhorado, todo um conjunto de situações evitáveis – responsabilidade da CML – anularam-na.
E ainda há a desarticulação dos serviços, por exemplo, as lavagens das ruas das zonas urinadas. Estas são irregulares, e não são lógicas – recentemente a CML autorizou o concerto de UFH no Miradouro de São Pedro de Alcântara na noite de Sexta-Feira, 14 de Outubro, e só houve lavagem (com jactos de água) das ruas das imediações na manhã de Domingo, 16 de Outubro.
Portanto, mesmo que todas as manhãs a CML lave e recolha o lixo, há sempre um período de horas em que os residentes e demais são expostos à insalubridade, de uma forma “medieval”. A resposta ao dano, não é com mais meios, mas com prevenção.

JS: Que medidas poderiam ser tomadas para tornar o bairro mais limpo?

MdBA: Legislar e regulamentar proibitivamente o consumo, circulação e venda de bebidas alcoólicas na rua, como já referimos atrás, à semelhança dos recintos desportivos.
E forçar o respeito da lei do ruído (decreto de lei 9/2007) através de fiscalização implacável, que resultaria em apenas ficarem abertos os bares tradicionalmente com condições para tal, potenciando o valor acrescentado da oferta nocturna do Bairro Alto. Uma espécie de “tolerância 0” para infracções à lei do ruído.
Como complemento, voltar a haver fiscalização eficazmente regular, fechando-se os bares/lojas que não tiverem condições (WC, lixo, venderem bebidas alcoólicas para a rua, etc).

JS: Já enviou queixas à CML?

MdBA: Quase todos os residentes já enviaram queixas à CML. Há munícipes residentes no Bairro Alto, que referem que a Provedoria de Justiça já é a única instituição que nos responde. Ontem, na Assembleia de Moradores, existiu um desfile de histórias de cartas (dezenas!) enviadas por munícipes, sem respostas da CML. Há um munícipe que se queixa todas as semanas pelo ruído e sujidade provocada pelas actividades no Miradouro de São Pedro de Alcântara, e não obtém resposta nenhuma. A última que obteve, relativa a reclamações de 2010, não coincide com o licenciamento que a concessão apresenta à Polícia Municipal quando fiscaliza.

JS: Que respostas obteve?

MdBA: Não tem havido respostas, de todo, a nenhuma das situações reclamadas em 2011.

JS: Qual pode ser a importância de usar o Facebook e os blogues para denunciar o problema do lixo em Lisboa?

MdBA: O Facebook e os blogues são a última ferramenta que temos para expor e denunciar esta generalização da violação dos direitos humanos que se verifica no Bairro Alto, porque a competência autárquica não responde, nem muito menos corresponde. Nós residimos cá, deveríamos ter uma palavra a dizer sobre o que é licenciado ou não, e em que condições, para não ficarmos reféns desta invasão de uma espécie de Festival Sudoeste que cá se instala todos os fins de semana.
A acção cívica e o associativismo – a recém-criada AMBA – Associação de Moradores do Bairro Alto e a moção que foi aprovada ontem “Bairro Alto 2012 – Por um Bairro Habitável”, serão da maior importância para finalmente vermos os nossos direitos a serem tidos em conta.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Contra o branqueamento

Contra o branqueamento daquilo que se passa no Bairro Alto.


Passaremos a transcrever uma opinião comum, que nos chegou através da página Facebook - Morar no Bairro Alto:


"não percebo, com tto campo a preços mais baratos e ar menos poluído, o porquê de continuar a viver o dia a dia de tta miséria que o faz infeliz, sinceramente ó meu sr sem nome ou cara, está página, deixe que lhe diga, não lhe fica nada bem. nem a nós, pelo retrato do atraso em que vivemos. talvez seja melhor uma Lisboa, ou mesmo país, em silêncio e estática, até mesmo paralisada, para nos tornarmos de vez numas múmias, paralíticas. tem de haver movimento para evoluirmos, já vi que pouco ou nada deve ter viajado na sua vida, pelo menos para países evoluídos, onde o movimento que tto reclama, é o que precisamente desenvolve o comércio e aumenta o nivel de vida e as condições. com o devido respeito, acho que nesta altura há coisas bem mais graves para nos preocuparmos, neste país. a conversa a mais e acções a menos, são precisamente algumas delas..."


Da vida no campo.
É verdade que a vida no campo é muito melhor em diversos aspectos. Contudo, a realidade de cada um -  actividade profissional, património individual e familiar, e outros aspectos de uma vida - e a realidade do presente modelo social e económico leva a que a concentração nos centros urbanos seja uma necessidade.


Das viagens e dos "países evoluídos".
Precisamente nos ditos "países evoluídos", os residentes de uma determinada área são tidos em conta, e há coisas que simplesmente não são permitidas. Por isso mesmo, nos ditos "países evoluídos", tudo fecha muito mais cedo a não ser que tenha condições muito rígidas de funcionamento. Em lugar algum de Londres, Paris, Praga, Madrid, Amsterdão, Copenhaga, Estocolmo, Camberra, Melbourne, Sidney ou Auckland (cidades já visitadas por um ou mais dos integrantes deste protesto) se assiste o que se vê no Bairro Alto. O/a leitor/a que escreveu é que ou tem uma noção distorcida do que é ser um "país evoluído", ou mente para publicitar falsamente contra as nossas legítimas aspirações como residentes.


Do comércio.
Somos por um comércio justo, que coabite com os residentes sem atropelar a sua vida. Há muitos residentes que são também comerciantes, ou trabalham no comércio. Queremos sim que o comércio tenha as mesmas regras e competição sã no Bairro Alto, no quadro da Lei, tal e qual no restante território: horários, condições (higiene, wc), etc.

Da imagem do país.

O/a leitor/a, nos "países evoluídos" por onde andou, não reparou que o maior carácter de evolução de uma sociedade se mede precisamente pela acção cívica.
Temos pena que lhe tenha passado ao lado.

Este protesto, é uma acção cívica.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Apontamento da "estupidez anónima"

Saiba V.Ex.a "anónima" que a estupidez é geralmente de quem a evoca.
Neste caso em concreto, a existência do blogue deve-se exclusivamente a dois fenómenos de estupidez:
1.º - Ineficácia da fiscalização e imposição da Lei e da Constituição da República Portuguesa no Bairro Alto;
2.º - Os agentes e estabelecimentos comerciais que prosperam sem qualquer respeito por quem habita o Bairro Alto;
Se no 1.º identificamos claramente quem está em falta, fica agora V.Ex.a incluída na 2.ª razão "estúpida" para a necessidade de existência deste blogue.

Fique sabendo, que obviamente preferíamos que a existência do presente não se justificasse.